Distúrbios do crescimento

O crescimento da criança é uma preocupação comum na consulta ao endocrinologista. Na maioria das vezes, a apreensão aparece quando os pais comparam a altura de seus filhos com outras crianças da mesma idade ou até mais novas. 


Mas afinal, o que determina a altura que a criança alcançará?


A altura é uma das características com maior variabilidade entre as pessoas, fazendo parte da maravilhosa diversidade humana!⠀

Desde fatores que ocorreram dentro do útero da mãe até fatores genéticos mais variados influenciam o crescimento das crianças.

Doenças endocrinológicas e várias outras doenças que "consomem energia", como anemia ou doença renal, podem atrapalhar o crescimento adequado.

Além disso, a alimentação adequada é essencial para o crescimento!

Quando se pode afirmar que uma criança e/ou adolescente tem baixa estatura?

A medição correta da altura é o primeiro passo.

 

Ela deve ser realizada preferencialmente em um estadiômetro de parede com a criança de pé e bem posicionada.

 

Para as crianças menores, pode ser realizada através de uma régua antropométrica específica, cujas extremidades tocam os pés e a cabeça da criança deitada.

A aferição da altura sentada é importante para avaliação da proporção corporal, que pode estar alterada em alguns distúrbios que cursam com baixa estatura.

A altura medida é então colocada em um gráfico de crescimento (em percentis ou desvios-padrões) para comparar sua altura com a de outras crianças da população de referência.

Define-se como "baixa estatura" uma altura menor que o percentil 2,3 ou - 2 desvios-padrão, que, na prática, corresponde a uma altura menor que 97,7% dos indivíduos do mesmo sexo e idade.

Outro parâmetro importante é a velocidade de crescimento (VC) da criança.

Ela é medida em centímetros por ano e calculada a partir das medidas de altura ao longo do acompanhamento (é importante ter pelo menos 2 medidas com 6 meses de diferença para esse cálculo). Os valores obtidos são colocados nas curvas de crescimento para comparação com outras crianças de mesmo sexo e idade.

A VC normal para a idade assegura que a criança não apresenta nenhuma doença naquele momento, enquanto a VC reduzida ou a queda na VC é um alerta importante de que a criança deve ser investigada.

É importante também determinar como está a altura da criança em relação ao seu potencial genético, que é estimado pela média da altura dos pais (+ 13 cm para os meninos e - 13 cm para as meninas).

A estimativa da altura final pode ser realizada através do cálculo de Bayley-Pinneau, mas é importante lembrar que o resultado é apenas uma estimativa caso a criança continue crescendo no mesmo ritmo, e não um veredito!

Quais exames devem ser solicitados em crianças com baixa estatura (BE)?

O principal exame inicial na investigação de crianças com baixa estatura é a Idade Óssea, que é calculada a partir de um Raio-X de mãos e punhos.

A Idade Óssea atrasada ou adiantada em relação à idade cronológica leva à suspeita de algumas causas de BE. Além disso, o Raio-X pode mostrar anormalidades ósseas típicas de determinados distúrbios de cresimento.

Os exames laboratoriais são importantes para excluir doenças endocrinológicas e não endocrinológicas que reduzem a velocidade de crescimento.

O estudo genético é de grande auxílio quando não se consegue descobrir a causa da baixa estatura somente pelos exames laboratoriais. Suas principais indicações são as condições que aumentam a probabilidade de uma causa genética da baixa estatura:

  • Baixa estatura grave
  • Estatura muito abaixo da esperada em relação à altura dos pais
  • Presença de anomalias congênitas (anomalias ósseas, cardíacas, renais ou outras presentes desde o nascimento)
  • Desproporção corpórea entre o comprimento do tronco e das pernas ou anomalias esqueléticas
  • Deficiência intelectual
  • Crianças nascidas pequenas para idade gestacional que não recuperam o crescimento e/ou com microcefalia (circunferência da cabeça menor que o esperado para a idade)

Principais causas de baixa estatura:

  • Baixa estatura familial

Como dito anteriormente, o potencial genético da altura depende da altura dos pais, portanto é esperado que pais com baixa estatura tenham filhos também com baixa estatura. Porém, isso não significa que a criança com pais baixos não precise de uma investigação maior, já que os pais podem ter causas genéticas de baixa estatura ainda não diagnosticadas.

  • Retardo constitucional crescimento e puberdade

A fase de maior crescimento após a primeira infância é a do estirão, que ocorre no início da puberdade. Desse modo, crianças com início tardio da puberdade podem ter altura reduzida em relação a outras crianças do mesmo sexo e idade. A maioria recupera a altura após o início da puberdade, mas a estatura final pode ficar comprometida em alguns casos.

Essa condição ocorre mais comumente em meninos e tipicamente há um atraso na idade óssea de pelo menos 2 anos. 

  • Baixa estatura psicossocial

Transtornos emocionais e alimentação inadequada podem levar a uma deficiência transitória do hormônio do crescimento (GH). O crescimento volta ao normal após resolução do problema.

  • Restrição do crescimento intrauterino

3 a 10% dos recém-nascidos apresentam peso e/ou estatura < -2 desvios-padrão e são considerados pequenos para idade gestacional. 90% deles recuperam o crescimento até os 2 anos de vida (o chamado catch-up), porém 10% podem evoluir com baixa estatura persistente, principalmente quando a restrição do crescendo intrauterino está relacionada a alguma síndrome genética.

  • Doença renal crônica 

Crianças com doença renal crônica têm diversas alterações que diminuem a ação do hormônio do crescimento, além de frequentemente cursarem com desnutrição proteico-calórica, prejudicando o crescimento. 

  • Deficiência do hormônio do crescimento (DGH)

A DGH pode ser congênita (presente desde o nascimento, causada principalmente por defeitos genéticos) ou adquirida (desencadeada após o nascimento por tumores, medicamentos, cirurgia, radioterapia, etc).

Essa deficiência geralmente leva a uma baixa estatura grave (< - 3 desvios-padrão), com prejuízo na velocidade de crescimento e atraso importante da idade óssea.

Seu diagnóstico exige a realização de testes de estímulo do hormônio do crescimento (GH) e, uma vez confirmada a deficiência, realiza-se uma ressonância magnética da hipófise para avaliar a causa da DGH. 

A DGH pode ser acompanhada pela deficiência de outros hormônios produzidos na hipófise, que devem ser sempre avaliados. 

  • Síndrome de Turner

Essa síndrome é causada por uma alteração cromossômica caracterizada pela ausência de um dos cromossomos X no sexo feminino. Além da baixa estatura, essas meninas tipicamente apresentam desenvolvimento tardio e/ou incompleto da puberdade e podem (ou não) apresentar características físicas típicas, tais como:

  • Orelhas proeminentes e com baixa implantação
  • Implantação baixa do cabelo na nuca
  • Pescoço curto e alado

É muito importante que TODAS as meninas com baixa estatura realizem o exame (cariótipo) para excluir essa síndrome. 

  • Outras síndromes genéticas

​Diversas outras síndromes causadas por mutações genéticas levam à baixa estatura, como as síndromes de Noonan; Silver-Russel; Prader-Willi e outras. Cada uma delas têm características específicas que levam à suspeita diagnóstica. 

  • Baixa estatura idiopática

A baixa estatura é denominada idiopática quando nenhuma causa foi evidenciada, o que ocorre em 60 a 80% dos casos. Muitas dessas crianças têm, na verdade, algum distúrbio genético não identificado

Tratamento da baixa estatura:

A indicação de tratamento varia de acordo com a causa da baixa estatura, e na maioria dos casos é realizado com a aplicação do hormônio do crescimento recombinante (rhGH).

As indicações clássicas para uso do rhGH são: 

  • Deficiência do hormônio do crescimento
  • Restrição do crescimento intrauterino sem recuperação do crescimento
  • Doença renal crônica 
  • Síndrome de Turner
  • Síndrome de Noonan
  • Síndrome de Prader-Willi
  • Deficiência do gene SHOX (Mutação genética)
  • Baixa estatura idiopática com altura < -2,25 desvios-padrão

A resposta ao tratamento é avaliada pela velocidade de crescimento e melhora da altura em relação à média para idade.

A dose do hormônio usado é calculada de acordo com o peso, e pode ser ajustada pela resposta ao tratamento e pelos níveis do IGF-1, que é o principal fator de crescimento produzido a partir do GH. 

O tempo de tratamento varia de acordo com a causa da baixa estatura, idade do paciente e resposta ao tratamento.

O acompanhamento frequente com endocrinologista é essencial!